Foto- Elton Damásio
Dr.
Zulmar Accioli estudou medicina na UFSC, onde se formou com destaque em primeiro lugar. Depois fez Cirurgia Plástica por sete anos, destes quatro na França e três no Brasil. Cocluiu
mestrado e doutorado em Ciências Médicas em Paris. Atualmente trabalha em clínica
própria e é professor de medicina na UFSC. Além de cirurgia plástica, também especializou-se em microcirurgia reconstrutiva. É pertencente ao Conselho de
Medicina. Foi Presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica -
Regional SC e atualmente é Presidente do Conselho Consultivo da Regional SC da
SBCP além de Ouvidor Nacional da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
Em que
local se pode fazer uma cirurgia plástica? Parece evidente que a resposta é: em
um centro cirúrgico de uma clínica ou de um hospital. Parece lógico, mas nem
sempre é assim. Existem profissionais, pouco recomendáveis, é verdade, que
efetuam as cirurgias em locais não adequados. Felizmente, na imensa maioria das
vezes, esses profissionais não são cirurgiões plásticos, vêm das mais diversas
especialidades (são otorrinolaringologistas, oftalmologistas, ginecologistas,
dermatologistas, endocrinologistas, clínicos gerais e até dentistas). Eles
aproveitam-se das famosas brechas legais brasileiras, causadas em parte pelo
excesso de leis – summum jus, summa injuria! – e aventuram-se na especialidade
alheia, certamente, para suprir a falta de sucesso ou de capacidade
profissional em sua própria especialidade. A cirurgia plástica é como qualquer
outra cirurgia, só pode ser realizada em um ambiente onde todas as instalações
sejam adequadas e certificadas pelos órgãos competentes. Esses órgãos são: o
corpo de bombeiros, a Vigilância Sanitária, o Conselho Regional de Medicina e a
prefeitura municipal. Quando o hospital ou a clínica são inspecionados e recebem
os respectivos alvarás, o paciente pode estar seguro do ambiente no qual ele
será operado. Na dúvida, o paciente deve pedir para ver os certificados. As
pessoas não podem esquecer que as instituições não são suficientes para tudo
controlar. O maior fiscal é também o maior interessado: o paciente. Quando uma
pessoa maior de idade e no pleno gozo de suas funções decisórias, que possua TV
a cabo, Internet e telefone celular submete-se por livre vontade a um
tratamento cirúrgico em um local temerário, é evidente que ela é parcialmente
responsável pelo que lhe suceder de desfavorável. Quase sempre, a motivação é o
baixo preço. Nesse momento, a máxima popular costuma ser verdade: o barato sai
caro! Mais triste é que, por vezes, o barato torna-se impagável, pois as
correções nem sempre são possíveis ou produzem resultados esteticamente
favoráveis. Para a montagem e manutenção de uma sala de cirurgia adequada aos
procedimentos propostos pela cirurgia plástica não existem milagres nem
mágicas, há um custo que é necessariamente mantido pelos valores que os
pacientes pagam. No tocante aos médicos, os Conselhos Regionais de Medicina
guardam a relação dos cirurgiões habilitados em cada especialidade, mediante o
Registro de Qualificação de Especialista (RQE), e a Sociedade Brasileira de
Cirurgia Plástica tem os dados.
Quais
são os objetivos de uma cirurgia plástica? Da mesma forma que ocorre com a
questão anterior, não é simples a resposta para essa pergunta. Não bastaria
dizer, conclusivamente, que alguém recorre à cirurgia plástica apenas para
modificar o corpo para melhor, porque seus objetivos ultrapassam o sentido
meramente estético, e envolvem aspectos de ordem psicológica. Assim, pelo que
já foi dito na questão precedente, a resposta alcança amplitude bem maior, porque,
na verdade, agrega valores subjetivos muito mais complexos em sua dimensão
existencial. A modificação do corpo, de modo a corrigir alguma desarmonia ou
amenizar traços do envelhecimento visa, como principal resultado, a deixar o
paciente feliz consigo mesmo. A meta é elevar a autoestima, no âmbito da
individualidade, a qual, quando alcançada, refletir-se-á favoravelmente nas
relações com os demais componentes do grupo social. No entanto, a cirurgia, em
si, é apenas meio técnico para isso. O profissional deve conscientizar os
pacientes de que a cirurgia modifica o corpo, porém, em maior medida, o grande
resultado encontra-se no universo íntimo de cada pessoa. Decidir-se pela
cirurgia requer conscientização e serenidade. É uma decisão que deve ser pensada
e repensada pelo paciente antes de ser tomada. A ansiedade do pré-operatório
decorre da incerteza quanto ao que vai acontecer na cirurgia, quanto à
expectativa do resultado, quanto à segurança do procedimento operatório e
anestésico. Todos esses fatores fazem com que o paciente passe por momentos de
estresse no período pré-operatório. Existe certo grau de fadiga durante o
desenrolar do procedimento cirúrgico, pois a grande maioria desses
procedimentos é realizada sob anestesia peridural ou local, com sedação, e o
paciente permanece em semiconsciência. No pós-operatório, mesmo se contando
hoje com a enorme evolução das drogas no controle dos fenômenos dolorosos e dos
vômitos, pois se utiliza cada vez menos a anestesia geral, sempre há de ocorrer
algum mínimo e natural desconforto. Os cuidados com o esforço físico, com os
curativos e com os remédios prescritos sempre incomodam o paciente em
recuperação. Para que tudo isso aconteça da forma menos desconfortável
possível, recomenda-se a todos os pacientes desejosos de se submeter a alguma
cirurgia plástica estética que, para se operar, preencham três requisitos: Saber o que quer. Ter a exata consciência do
problema que o incomoda – se o nariz é grande ou mal formado, se as orelhas são
de abano, se as mamas são pequenas ou volumosas em excesso etc. Só com uma
queixa precisa o cirurgião poderá avaliar e diagnosticar o caso e sugerir o
melhor tratamento específico.
A
cirurgia plástica tem limites? Apesar dos extraordinários avanços técnicos e
científicos, certamente existem limites impostos por condicionamentos
variáveis, quer individualizados, quer de recursos disponíveis. Cirurgiões,
afinal, não são deuses. Assim, dentre os mais importantes aspectos, estão os
naturais limites humanos e os limites materiais. Dentre os limites humanos
encontram-se, de um lado, as limitações do cirurgião, mormente quando avaliadas
por sua adequada formação médico-cirúrgica, por sua habilidade e por seu senso
estético. De outro lado, estão as limitações do paciente, tanto de suas condições
de saúde física e reações específicas quanto de seu preparo psicológico e
intelectual. As limitações materiais relacionam-se com as condições locais das
instalações operatórias e das adequadas acomodações de internação, as drogas a
serem administradas e os instrumentos utilizados. Esse conjunto de fatores
estabelecerá as balizas para o resultado final de uma cirurgia plástica. Por
conseguinte, quanto menos sofisticada for a formação do cirurgião, menos
sofisticadas serão as técnicas por ele empregadas, o que terá direta relação
com o que dele espera cada paciente. Pode acontecer que o emprego de uma
técnica cirúrgica menos apurada, que deixa cicatrizes maiores ou dá resultado
menos duradouro, satisfaça um paciente menos exigente. Já pacientes de perfil
mais refinado, evidentemente, exigirão as técnicas mais sofisticadas, capazes
de reduzir ao máximo as cicatrizes ou mesmo torná-las quase imperceptíveis, e
com maior durabilidade. É muito importante que, no momento da consulta
pré-operatória, exista perfeita sintonia entre o paciente e o cirurgião. As
condições de saúde do paciente, já mencionadas, poderão ser condicionantes
limitativos de melhor resultado cirúrgico. Tanto as doenças crônicas (diabetes,
insuficiência cardíaca etc.) quanto os hábitos de vida (tabagismo, outras
drogas tóxicas etc.) poderão limitar e até mesmo contraindicar um procedimento
operatório. Apesar de ter semelhanças com a escultura, a cirurgia plástica tem
menos liberdade, porque trabalha com tecidos vivos, que necessitam de vascularização
e, por isso, estão sujeitos a infecções e sangramento. No momento da consulta
pré-operatória, o cirurgião deverá expor ao paciente todos esses aspectos, e
com ele discutir os prós e os contras da cirurgia.
Por que
se submeter a uma cirurgia com fins estéticos? Realmente essa é uma questão
constantemente discutida no meio leigo e, como outras tantas que envolvem juízo
de valor, não apresenta resposta fácil. Tradicionalmente, a cultura popular diz
que a vaidade leva mulher e homem a se submeter à cirurgia plástica estética.
Como normalmente ocorre nas conclusões simplistas, o referido raciocínio
apresenta-se superficial e equivocado, pois tal questão mostra-se muitíssimo
mais abrangente. Os mais modernos e aprofundados estudos a respeito dos instintos
que impulsionam as pessoas a procurar o que chamamos de beleza mostram que algo
semelhante acontece com quase todas as criaturas da natureza. As leoas procuram
os leões com a mais imponente juba, os pássaros fêmeas deixam-se seduzir por
seus equivalentes masculinos possuidores de plumagem mais exuberante etc. É
algo instintivo. Conosco, mesmo em um contexto de sofisticação mais apurada,
ocorre fenômeno assemelhado. Os considerados belos atraem-se. É dedutível que,
na raiz, existe uma boa razão biológica e evolutiva para isso. A natureza
moldou uma forma prática bastante simples e eficaz para que um ser procure
outro da mesma espécie, de preferência geneticamente bem aquinhoado, para
realizar uma reprodução de boa qualidade. Em regra, quanto melhor for a
qualidade genética dos pais, melhor será a do filho. Pelo menos, é essa uma das
formas como a seleção se faz, ao natural, a fim de promover a evolução de uma
espécie. Para que os indivíduos sejam compelidos a esse comportamento, a
natureza impregnou-os, dentre outros estímulos correlatos, de instintos que os
fazem achar atraente outro indivíduo bem proporcionado e simétrico. O próprio
indivíduo – seu ego – sente enorme prazer quando se observa e também encontra,
em si, esses traços capazes de causar boa impressão em outrem e, de modo
particular, de atrair o sexo oposto. Por certo, como foi dito, também ocorre a
assimilação de fatores culturais, igualmente importantes nesse contexto, que se
modificam no tempo e no espaço,
isto é, no País ou cidade onde a pessoa mora. Nas cidades com praia, as pessoas
se expõem mais, portanto o tipo de cirurgia plástica preferida também se
reflete nisso. Em resumo, o importante, quando alguém pensa em se submeter a
uma cirurgia plástica, é ter a noção que ela apenas melhora o corpo. A
cirurgia, portanto, não faz ninguém ficar lindo, faz ficar melhor, o que já é
muita coisa. O mais importante de tudo: a segurança! Cirurgia plástica estética
é uma cirurgia que não se arrisca a saúde, só se submete à cirurgia, quando o
paciente preenche os requisitos necessários para uma cirurgia eletiva. Por
todos esses motivos aqui expostos, a cirurgia plástica deve ser realizada por
cirurgião plástico credenciado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica!